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Publicado: 01 Junho 2015,
A Companhia Docas de Santana foi destaque no mês de maio no Site de Notícias "Portal Amazônia". A jornalista, Paula Monteiro, realizou uma reportagem especial sobre o escoamento da soja do Centro-oeste brasileiro pelo Porto de Santana. Leia a matéria na íntegra.
Do manganês aos grãos: Amapá quer abrigar o melhor porto logístico da Amazônia
MACAPÁ - O Amapá se prepara para alcançar o título de melhor porto logístico da Amazônia. A posição geográfica - com Oceano Atlântico e o rio Amazonas ao Leste do território - deve facilitar o escoamento de grãos do Centro-Oeste do Brasil para o exterior. O Amapá também planeja deixar o status de 'estado consumidor' para se tornar 'estado produtor', com a geração de grãos e outros insumos. A primeira movimentação com cargas produzidas pelo cerrado amapaense está prevista para 2015 com navios carregados de soja. O Portal Amazônia entrevistou empresários e diretores na área de logística e agronegócio para destacar os avanços no projeto do Porto de Santana.
Empresários do Mato Grosso, Estado que mais produz soja no Brasil, mostram interesse em usar o Amapá como rota de escoamento de grãos. A exportação de grãos do Centro-Oeste sairá de Sorriso (MT) e acontecerá via BR-163 até Itaituba, no Pará, e depois via hidrovia Tapajós-Amazonas até o Porto de Santana, no Amapá. “O norte de Mato Grosso tem uma grande dificuldade na escoação da produção. De lá, até o Porto de Paranaguá, no Paraná, a carga percorre 2.150 mil quilômetros. Trazendo para o Amapá, o empresário economizará 1.100 quilômetros no transporte. A hidrovia diminui 30% do custo da movimentação desse produto”, afirmou o presidente da Companhia Docas de Santana (CDSA), Eider Pena. A primeira movimentação com carga do Centro-Oeste está prevista para o segundo semestre deste ano.
A logística de utilizar a hidrovia no lugar das rodovias diminui o custo econômico para os empresários, na redução do frete, além de reduzir a poluição ao meio ambiente. O transporte hidroviário emite seis vezes menos gás carbônico que o rodoviário e consome 19 vezes menos combustível por mercadoria carregada.
A logística de distribuição de produtos de outras regiões pelo Amapá para o exterior também despertou o investimento no agronegócio. O Estado se prepara para usufruir das características geográficas e ganhar força no mercado mundial de navegação. Para isso, trabalha para abranger a cadeia produtiva própria com movimentação no mercado nacional e internacional. “Temos um porto com a melhor situação geográfica que existe na Amazônia. Tudo que nós produzimos conseguiremos colocar no mercado internacional, com a vantagem de ser muito mais barato, devido a localização geográfica. O mundo busca logística”, disse o presidente da CDSA.
Além do escoamento de soja do Centro-Oeste e do cerrado amapaense, também haveria a distribuição de outras mercadorias que chegariam nos navios graneleiros ao Brasil pelo Amapá. Cerca de 95% das riquezas que entram nos estados e países é realizada através deles. A ideia é trazer matéria prima para agregar ao que o Amapá possui. “Existe, inclusive, uma proposta de produção de cimento na CDSA. Vai haver um verdadeiro ‘corredor de movimentação’. As barcaças que vem do Mato Grosso não voltarão vazias. Poderemos fazer uma “inversão”: passaremos a mandar produtos que atendam o mercado interno e internacional. Dessa forma, o Amapá será um polo de desenvolvimento”, reiterou Pena.
As chances do Porto de Santana se tornar um dos melhores terminais da Amazônia e do Brasil são grandes. Para isso, o local busca investimentos de iniciativa pública e privada. “O Governo Federal tem que apostar na CDSA. Nós estamos preparando a Companhia Docas de Santana para que possamos abrir o capital. Hoje, ela tem 99,9% do município. Também estamos organizando todas as normas necessárias perante a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) e a Secretaria Especial dos Portos (Sep) para cumprir as exigências que um Porto deve ter e, assim, chamar também a atenção do Estado para investimentos”, disse Pena.
Em maio deste ano, o ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Roberto Mangabeira Unger, esteve no Amapá para tratar sobre políticas públicas de longo prazo voltadas ao desenvolvimento econômico e social do Estado. Na ocasião, Unger visitou a estrutura da Companhia Docas de Santana e falou do potencial do Amapá no desenvolvimento econômico da Amazônia e do Brasil, além dos investimentos na área portuária. “O Amapá tem imensas vantagens comparativas para organizar uma indústria madeireira contemporânea sustentável, aproveitar as riquezas minerais e organizar no cerrado uma nova produção de cereais, além de escoar os cereais do Centro-Oeste. Para isso, é preciso ter estrutura portuária. Daí o grande significado da ampliação do Porto de Santana”, afirmou.
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o transporte hidroviário passa por longos períodos sem investimentos. Apesar de ser o sistema de locomoção mais barato e o que menos agride o meio ambiente, a navegação fluvial no Brasil é o sistema de menor participação no transporte de mercadorias e passageiros.
Promessa no agronegócio
O Amapá é considerado a última fronteira agrícola do Brasil. Com 14,3 milhões de hectares, a meta é deixar de ser um Estado consumidor para ser um Estado produtor. O território já conta com um zoneamento econômico-ecológico de aproximadamente 1 milhão de hectares de cerrado para a produção de grãos em grande escala. Deste total, 500 mil hectares serão dedicados à produção de milho, soja e arroz.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Amapá (Aprosoja-AP), Daniel Sebben, destacou que os produtores de grãos no Estado acreditam no potencial da produtividade do cerrado amapaense. “Há uma grande expectativa na produção de grãos. As vantagens dos grãos são inúmeras a contar pelo preparo do solo que é muito rápido. Hoje, temos 15 mil hectares de soja, além de outros cinco mil hectares dedicados ao milho e arroz, mas a nossa capacidade produtiva é muito maior. Em médio prazo, três ou quatro anos, nossa escala de produção vai viabilizar, inclusive, outros negócios relacionados a esse setor”, disse otimista.
Entre os principais entraves para a produção de soja no Estado estão: regularização fundiária, o licenciamento ambiental e a infraestrutura de armazenagem. “Atualmente, nenhum produtor está produzindo com a capacidade máxima, pois falta estrutura assim como ocorreu em outros estados que iniciaram na produção de grãos. Não existe estrutura para armazenar nem 10% da nossa produção”, afirmou Sebben.
O projeto para explorar o potencial agroeconômico do Amapá começou há aproximadamente 14 anos. Desde então, busca-se alternativas para investimento. “Temos um potencial muito grande, mas com poucas áreas exploradas. Daqui a três ou cinco anos, todo esse processo será modificado. Então, a produção no campo e a verticalização de tudo que é produzido vai melhorar a qualidade de vida do cidadão e criar oportunidades para essa e outras gerações no que refere-se a geração de emprego e renda”, pontuou o presidente da CDSA.
As expectativas incluem o beneficiamento da produção. "Essa produção não só irá sair in natura do Amapá como também agregaremos valores na produção de outros produtos como ração, e com a produção de ração nós começaremos a transformar a proteína vegetal em proteína animal. Dessa forma, nós deixaremos de trazer essa base alimentar dos outros Estados para produzir a nossa própria base alimentar”, explicou Eider Pena.
Ampliação do Porto de Santana
Localizado no canal de Santana (distante a 18 km de Macapá), o Porto de Santana (antigo Porto de Macapá) foi construído em 1980 para atender à movimentação de mercadorias por via fluvial transportadas para o Amapá e para a Ilha de Marajó. Com posição geográfica privilegiada, o Porto de Santana tornou-se uma das principais rotas marítimas de navegação e de escoamento de cargas como cromita, manganês, madeira, cavaco de eucalipto e pinus, biomassa, minério de ferro e pasta de celulose.
Desde o dia 14 de dezembro de 2002, através do Convênio de Delegação nº 009/02 do Ministério dos Transportes e a Prefeitura de Santana, foi criada a Companhia Docas de Santana, empresa pública de direito privado para exercer a função de Autoridade Portuária.
A atual estrutura conta com dois cais. O Cais A possui 200m de extensão, profundidade de 12m e um berço próprio para navios tipo Panamax. Já o Cais B conta com 150m de extensão, 11m de profundidade, e um berço, que atende às navegações de longo curso e de cabotagem. Conta com um armazém de 2.800m² para carga geral, um galpão de 1.500m², um pátio de 3.000m² e um Pátio de Contêineres com 16.500m², com capacidade para 900 TEUs. O Porto de Santana possui terminais privados da Anglo Ferrous (com 270m de cais e 12m de calado, o qual opera na exportação de minério) e o Ipiranga/Texaco (com 120m de cais e 10m de calado, o qual movimenta combustíveis).
A CDSA planeja um projeto de expansão na estrutura do Porto que acompanhe a demanda do mercado nacional e internacional, pois além de carga o Porto de Santana também recebe navios transatlânticos. “O Amapá até hoje não possui um terminal de passageiros para encostar navios ou embarcações de menores portes. Nós temos garantidos na Secretaria de Portos R$ 2 milhões disponíveis para elaborar o projeto básico para fazer o executivo e assim possamos ter recurso do Governo Federal um montante de R$ 40 milhões a R$ 45 milhões”, afirmou Pena.
Além do terminal de passageiros, o projeto prevê a construção de mais dois berços para receber navios com capacidade maior. A ampliação do píer 2 para 200 metros e a construção de um novo berço. “Hoje temos dois berços e nós precisamos alongar um desses e fazer mais outra para aumentar a quantidade de movimentação de cargas e criar mais ferramentas de trabalho para que a gente aumente a nossa receita”, justificou Pena.
Amapá: Da ‘Terra do Manganês’ à ‘Terra dos Grãos’
Durante a década de 50, na segunda metade do século XX, o minério de manganês era fortemente explorado no município de Serra do Navio pela Indústria e Comércio de Minérios S.A. (Icomi), no Amapá. Essa foi a primeira experiência de mineração industrial na Amazônia. Atualmente, o Amapá movimenta cargas de cromita, manganês, madeira, cavaco de eucalipto e pinus, biomassa, minério de ferro e pasta de celulose.
Apesar da exploração de minérios ser uma atividade que sempre despertou interesse nos gestores públicos do Amapá para impulsionar o desenvolvimento regional, o agronegócio ganha cada vez mais atenção do poder público e setor privado para o crescimento econômico e social da região no século XXI. “A exploração mineral tem começo, meio e fim. É por isso que eu acredito mais nos grãos. Os grãos são produzidos em ciclos. Todos os anos você planta, colhe, planta e colhe e dessa forma garante mais produtividade”, finalizou o presidente da CDSA, Eider Pena.